É escusado.
Cada português que se preza é uma muralha de suficiência contra a qual se quebram todas as vagas da inquietação.
Conhece tudo, previu tudo, tem soluções para tudo. E quando alguém se apresenta carregado de dúvidas, tolhido de perplexidades, vira-lhe as costas ou tapa os ouvidos.
Um mínimo de atenção ao interlocutor seria já uma prova de fraqueza, uma confissão de falibilidade.
Quanto mais apertado o seu horizonte intelectual, mais porfia na vulgaridade das certezas que proclama.
Não à maneira humilde e cabeçuda dos que se limitam a transmitir sem análise um saber ancestral, mas como um presumido doutor, impante de mediocridade.
Miguel Torga
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Quando nós dizemos o bem, ou o mal...
há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas, e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação...
No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades...
Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem.
A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta,
mas é o único do género por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana.
José Saramago
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