À Água



Ninguém ouve a canção, mas o ribeiro canta!

Canta, porque um alegre deus o acompanha!

Quantos mais tombos, mais a voz levanta!

Canta, porque vem limpo da montanha!


Espelho do céu, é quanto mais partido

Que mais imagens tem da grande altura.

E quebra-se a cantar, enternecido

De regar a paisagem de frescura.


Água impoluta da nascente,

És a pura poesia

Que se dá de presente

Às arestas da humana penedia...



Miguel Torga, Odes

Fotografia: Miguel Castro Oliveira | 2025

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